junho 17, 2009

A Verdadeira Cidadania (2)

Vivíamos, então, uma época maravilhosa, em que o entendimento das questões essenciais que afligem o ser humano desde as origens, como a vida e a morte, a origem das espécies e da vida na Terra, e a exploração do Universo, começava a ser vislumbrada através do tênue feixe de luz que a frágil lanterna da ciência consegue lançar sobre a nossa ignorância. Poucos conseguiam ter consciência dessas maravilhas e desse privilégio, contemplar esse momento único, regozijar-se de pertencer a tal momento da nossa fugaz existência no pano de fundo do oceano cósmico. Um desses raros homens foi Carl Sagan. Ninguém se esforçou mais do que ele para mostrar a todos nós a importância fundamental de tornar acessível a toda a espécie humana a posse dessa ténue luz da ciência. Ninguém como Sagan teve a coragem e a iniciativa de colocar à prova o pensamento científico, sem preconceitos, sem soberba e sem arrogância. Sagan ensinou-nos a intricada simplicidade das coisas e a relatividade de tudo. Ensinou-nos a modéstia, atributo próprio, como dizia, de quem se dedica ao estudo da astronomia, pois mais tarde ou cedo chegará a perceber o quanto finitos e incompletos nós somos. Com ele aprendemos a saber que a inteligência, a dignidade e a superioridade de cada um de nós está naquilo que aparentemente não se vê, mas no que se sente e busca para lá de todas as fronteiras, acima dos espíritos comezinhos e limitados. Podemos lembrar Sagan por ter sido um cientista e um astrônomo de renome internacional, pela sua participação em alguns dos mais importantes projetos da NASA como o das primeiras sondas Viking para Marte e Voyager para Júpiter (nos anos 70) e pela sua constante aparição nos meios de comunicação social e nas conferências da mais elevada comunidade científica do planeta. Mas certamente, para os que conhecem, ainda que superficialmente, a sua obra, as suas idéias e os seus ideais, Carl Sagan será sempre lembrado como um ser humano especial, com uma visão de mundo muito particular, demasiado vasta para o comum dos mortais, profundamente essencial e sentimentalmente poética. A ciência era sua musa inspiradora e falar da ciência era sua poesia. Sagan inspirou-nos a todos, num ou noutro sentido, na busca das questões fundamentais e verdadeiramente importantes. Soubémos com ele a não nos limitarmos a este mundo, mas a olhar as coisas na sua perspectiva mais profunda e verdadeira, com a consciência da nossa insignificância, com a elevação do nosso carácter.