A Verdadeira Cidadania (3)
Carl Sagan era um idealista, um visionário e um sonhador. Talvez o último grande humanista, o derradeiro da linhagem do espírito grego. Perseguiu as suas paixões ao longo da vida, como a que nutria pelo planeta Marte, e os seus sonhos, como aquele que foi o maior de todos, aquele que nos continua a afligir e a apaixonar, e que Sagan dizia ser o mais significativo, a busca essencial e a tarefa mais bela e relevante da história humana: a procura de vida e inteligência além da Terra, que retratou no romance "Contacto", adaptado ao cinema por Robert Zemeckis, onde Jodie Foster, o alter-ego de Sagan, escuta os sinais vindos do espaço (SETI). Embora não tenha vivido para poder ver realizado esse que foi o maior de todos os seus sonhos (e quando se realizará???), Carl ainda pôde ver alguns deles concretizados. Outros deixou-os como legado às gerações futuras, em quem depositava toda a confiança e esperança. Quando me lembro da série televisiva Cosmos e dos seus livros e escritos não posso deixar de regozijar-me e agradecer, não sei bem a quê ou a quem, o privilégio de ter existido nesta época e compartilhar da existência de um ser humano como Carl Sagan. Com ele vamos através da poeira interestelar pelas vozes da fuga cósmica, detemo-nos, como Mark Twain, deitados na relva, nas noites de verão, a perscutar a estrelas, sentimos um arrepio ao escutar a música que John Williams compôs para ET ou os acordes de Vangelis para as primeiras e eternas imagens de Cosmos; com Sagan somos levados a ter uma fé inabalável no percurso da humanidade e a empreender a busca dos princípios fundamentais. Sagan ensinou-nos a relativizar o mundo e as coisas, a ir mais além do que devemos ir e a acreditar no que se manifesta por detrás do que aparece oculto. Carl Sagan conduz-nos numa viagem primordial pela história humana e pela evolução do Universo e aponta-nos, como uma luz última, tal o dedo reluzente do pequeno ET a tocar-nos a testa, os mundos para além da Terra e as vidas que atravessam a poeira do tempo e do espaço. Com Sagan regressamos a um mundo antigo e essencial, e à infância protegida em que nos debruçávamos no parapeito para ouvir a música das estrelas e sentir os mundos que gravitam dentro e fora de nós, como uma grande enciclopédia galáctica. Conhecer Carl Sagan é compreender que o nosso mundo nunca mais será o mesmo. É empreender o maior de todos os mistérios e iniciar a maior de todas as viagens.
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