abril 18, 2007

As Ilhas como Metáfora: A Ilha-Banca

A Ilha-Banca
«É, inquestionavelmente, a chamada síndrome da «fortuna de além-mar»: a ilha no seu aspecto fantasmático e misterioso, por essência, augura sempre a presença provável de um tesouro. O tesouro não é, obviamente, sempre de ordem financeira - pode tratar-se da descoberta do ser amado ou de uma curiosidade biológica -, mas o materialismo impõe-se com frequência. O emblema mais flagrante dessa imagem é a literatura de piratas e flibusteiros que, através de grandes histórias de aventuras e de heróis carismáticos, alimentou o mito do tesouro insular. A pura invenção não foi necessária porque, do Pacífico ao oceano Índico, passando pelas ilhas anglo-normandas, os lobos-do-mar sabiam esbanjar e, sobretudo, esconder as riquezas saqueadas nas ilhas mais ou menos obscuras e apartadas do continente. Várias razões o justificaram: nas viagens longas era necessário fazer algumas paragens. Mais ainda: há melhor esconderijo do que uma ilhota isolada para dissimular o ouro e as pedras preciosas? Quem se arriscaria por lá? O esconderijo mais seguro é uma buraco na areia perto de um coqueiro ou uma gruta submarina? Ainda hoje se encontram loucos furiosos que tentam encontrar os frutos desses furtos! Se Daniel Defoe foi um dos primeiros a escrever sobre o assunto, Robert Louis Stevenson foi, sem dúvida, o seu popularizador com a Ilha do Tesouro e o seu homem de perna de pau, LOng John Silver (que inspirou, também, uma sequela a Bjorn Larsson). Um livro repleto de violência, num ambiente de pesadelo frequentemente subestimado. Se a história marítima não tem sempre escala, a maior parte dos autores gosta, contudo, de insistir no mito da ilha como lugar do tesouro, de Rafael Sabatini (O Capitão Blood) a Patrick O `Brian (em The Mauritius Command e na série de aventuras de Jack Aubrey), passando por Robert Margerit (A Ilha dos Papagaios). Verdadeiro émulo de Surcouf (famoso «rei dos corsários» cujas façanhas foram narradas por Arthur Bernède), Louis Garneray contou, também, a sua experiência em numerosos obras, evocando os usos e costumes dos piratas das ilhas (Les naufragés du Saint-Antoine). Um livro não seria, então, a feliz incorporação na própria ficção dessa outra ficção que é o mapa do tesouro? Acresce que se a ilha pode esconder riquezas, também pode obviar à perda do pecúlio. Basta ler Défiscalisées, de Patrick Besson, romance ambientado em Maiorca, para eliminar qualquer dúvida. Será uma homenagem a esta imagem da «ilha-banca», transfigurada em paraíso fiscal, que leva autores franceses de sucesso (Houellebecq à cabeça) a procurarem esses refúgios insulares?.» (texto de Baptiste Liger; Lire, Junho 2004; Trad. de João Carlos Barradas)

Etiquetas: