As Ilhas como Metáfora: A Ilha Exílio
A Ilha Exílio «Exílio» significa etimologicamente expulsão da pátria e dor. A Odisseia constitui a sua primeira expressão literária: depois dos dez anos do cerco de Tróia, Ulisses é condenado pelos deuses a nove anos de exílio suplementar. Bem mais tarde, o século XIX verá os exílios insulares à luz do romantismo, o primeiro deles, o de Napoleão, é narrado no Mémorial de Sainte-Hélène, de Las Cases. A obra, objecto de culto da geração romântica, é o livro de cabeceira de Julien Sorel em O Vermelho e o Negro, de Stendhal. Outra personalidade do século, autor da sua própria lenda que se agiganta no exílio, Victor Hugo deixa a França após o golpe de Estado de Luís-Napoleão Bonaparte. Depois de alguns meses em Bruxelas, entre Dezembro de 1851 e Agosto de 1852, fixa residência em Jersey, instalando-se na vivenda Marine Terrace. Da janela do seu quarto abarca a costa francesa e trabalha obstinadamente. Expulso de Jersey pelo governo inglês, passa a viver em Guernesey, onde permanece até à queda do Segundo Império, recusando a amnistia oferecida por Napoleão III, em 1859. Transformado na consciência da oposição, ao publicar La Voix de Guernesey, em 1867, Hugo, o exilado, dá à sua obra inflexões oceânicas e cósmicas, indubitavelmente ligadas à insularidade forçada. Ressoam em Les Châtiments ou nos últimos textos de La Légende des siècles, «Pleine Mer» e «Plein Ciel». No século XX, é a ilha de Manhattan que acolhe inúmeros exilados oriundos da Europa e da Ásia. A porta de entrada no Novo Mundo é precedida de uma outra ilha, Ellis Island, cujos contornos foram evocados por Robert Bober e Georges Perec nos seus belos Récits d`Ellis Island, marcados pela sensibilidade e o pudor». (texto de Clémence Boulouque; Lire; Junho 2004; Trad. de João Carlos Barradas)
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