setembro 18, 2007

Irlanda: A Música (3)

Como se referiu aqui e aqui, na Irlanda, música, poesia, terra, mar e viagem são realidades inseparáveis, formando, cada uma delas, e todas, a nossa grande deslocação através da paisagem. É um tema recorrente em Seamus Heaney, esse, o do movimento que fazemos ao atravessar os vales e as costas a conduzir. Conduzir como forma de ligarmos um lugar ao outro, conduzir como acto de meditação e desnivelamento dos sentidos.

Co. Clare, The Burren, Ireland, Set.2006 (Photo by RC)

A música irlandesa, seja ela a de raíz marcadamente tradicional (o sean-nós), como em Liam O ´Flynn, nos Boys of the Lough ou nessa verdadeira lenda que são os The Chieftains, seja na sua vertente de ressurgimento transmultidisciplinar, onde se incluem as inesquecíveis sonoridades de fusão de Enya, dos Altan, Capercaillie e dos Clannad, seja, finalmente, na nova música e na Pop, com marcas de relevância mundial, como The Waterboys, The Pogues, os U2, Van Morrison (que em parceria com os The Chieftains é autor de um album histórico), The Cranberries e The Corrs, conta-nos, à semelhança da poesia, da literatura e da arte, uma história. Uma história de exílio, de esperança, de tempestades, de caminhos perdidos e rostos lembrados. Através dela perspassamos os olhos e os ouvidos pelas estrelas desaparecidas dos Celtas, pela sua marcha antiga através das pedras e dos túmulos, pelo sol a bater nas cruzes dos cruzamentos do Dhún na nGall, pelas costas agrestes nos Anais Irlandeses, inspirados pela visão parcelar de Tír na NÓg, a terra da juventude, e pelos espíritos das crianças que dançam na praia ao vento, como no poema de W.B.Yeats. As canções e as baladas falam por si mesmo e contam-nos histórias de deuses deitados ao longo de vastos campos de relva. Tempus Vernum ... Deora ar mo chroí ...

Co. Connemara, Ireland, Set.2006 (Photo by RC)

Pelas estradas que cruzam o Connemara, o Donegal, a península de Dingle ou o Ring of Kerry, a música ecoa e sobe pelas bermas de pedra e nos campos de urze e turfa cortada. Como em Seamus Heaney, é a conduzir que lá chegamos ... Por isso, sugerem-se a seguir algumas canções, baladas e músicas irlandesas. São algumas, podiam ser outras; são poucas, podiam ser muitas. Mas são essenciais para o Postscript ou The Peninsula, de Heaney. Ou seja: essenciais para a nitidez das coisas em suas formas,/ água e terra definidas nos seus extremos. Por outras palavras: para conduzir através da peninsula, into County Clare, along the Flaggy Shore,/ In September or October.

1. Dr Macphail's Reel, Capercaillie

2. An Gille Ban, Trad., Capercaillie

3. Siuil A Rún, Trad., Sissel

4. Buachaill On Eirne, Clannad

5. Everywhere, Cara Dillon

6. Coinleach Ghlas An Fhomhair, Trad., Arr: Clannad

7. An Mhaighdean Mhara, Altan

8. Aisling Gheal, Trad., Liam O'Flynn

9. Strange Boat, The Waterboys

10. When Ye Go Away, The Waterboys

11. CarricKfergus, Trad.

12. The Stolen Child, W.B. Yeats/AdaptedTo Music By Mike Scott, The Waterboys

13. Miss Rowan Davies, Boys Of The Lough

14. Buachaill On Eirne, Trad., The Corrs

15. An t-Eilean Mu Thuath, Capercaillie

16. Irish Heartbeat, Van Morrison & The Chieftains

17. Coney Island, Van Morrison

18. Danny Boy, Trad.

19. SHe Moved Through The Fair, Trad., arr. Paddy Moloney The Chieftains & Sinéad O'Connor

20. Celtic Excavation, Van Morrison

21. May It Be, Enya

22. Iona Theme, Capercaillie

23. Colum Cille, Capercaillie

24. The Hebrides, Capercaillie

25. A Gentle Place, Clannad

26. Atlantic Realm, Clannad

27. Calum's Road, Capercaillie

28. Mallai Chroch Schli, Altan

29. Dunford's Fancy, The Waterboys

30. Deireadh An Tuath, Enya

31. On Your Shore, Enya

32. Ode To My Family, The Cranberries

33. With or Without, U2

«Quando mais nada tiveres a dizer, conduz/um dia inteiro contornando a península./O céu tão alto como sobre uma pista,/a terra sem marcas que digam se chegamos,//sempre a caminho, mas sempre aquém de avistar terra./Ao sol-pôr, horizontes sorvem mar e colina,/o campo lavrado engole a branca empena/e estás de novo no escuro. Agora relembra//o brillho da areia, um tronco em silhueta,/aquela rocha que esfarrapava as ondas,/aves marinhas com pernas como andas,/ilhas navegando por entre a névoa,//e regressa a casa ainda sem nada p`ra dizer/a não ser que agora lerás qualquer paisagem/assim: a nitidez das coisas em suas formas,/água e terra definidas nos seus extremos.»

The Peninsula; poema de Seamus Heaney (de Door into the Dark, 1969); Trad. de Rui Carvalho Homem; Da Terra à Luz - Poemas 1966-1987; Relógio D`Água Editores: 1997)

Passagem: Irish Music Central; Irish Music Magazine

Etiquetas: , , , ,

2 Comments:

Blogger João Ricardo Lopes said...

Rui,

Continuo a maravilhar-me nestes "Fundamentos da Passagem"! Os textos (estudos) que aqui deixa são simplesmente fabulosos! Dá vontade de pegar na mochila, num bilhete de avião e ir até à Irlanda buscar in loco essa poesia que aqui nos ilumina!

Um abraço!

18:49  
Anonymous Anónimo said...

Caro João Ricardo Lopes,
muito obrigado. São destas suas palavras que dão razão e fundamento para estas coisas e passagens. é isso que se pretende. Um abraço,
Rui Cóias

11:40  

Enviar um comentário

<< Home