agosto 27, 2007

Moleskine (3)

A Ilha do Além
«Para os povos navegadores existem sempre ilhas para lá do horizonte. Ilhas onde dizem esconder-se a felicidade. São ilhas dos bem-aventurados, plenas de harmonia sob a égide de Apolo, de que fala Hesíodo aos gregos desde o século VIII a.C. A ilha representa neste caso a promessa da salvação. Na mitologia celta os druidas iam a Inglaterra à procura do aperfeiçoamento da sua doutrina (recordai-vos de Panoramix que se desloca a uma conferência de druidas no album Asterix e os Godos), mas também na busca de uma espécie de mundos paralelos - como conta, por exemplo, Yeats, em The Celtic Twilight, publicado em 1893 -, onde se celebra a festa de Samain, a 1 de Novembro, o Ano Novo dos druidas, dias em que os mundos dos vivos e dos mortos entravam em comunicação. A ilha suscita, portanto, uma dimensão mística. É por essa razão que, na lenda do Graal, a busca do cálice sagrado deve levar à ilha de Monsalvat, a ocidente dos mares, onde o curso do tempo está suspenso. O Graal, cálice da Última Ceia onde foi recolhido o sangue de Cristo, surge a partir do século XII, mas numerosos contos celtas anteriores a essa data falam de um vaso mágico contendo o néctar da vida eterna, escondido numa ilha. Outra ilha, terra matriz de toda a potência, como em certos textos gauleses nos quais Cena, a ilha de Sein, era habitada por sacerdotisas dotadas de espantosos poderes de previsão. E se o Éden era um jardim, a tradição muçulmana vê o paraíso terrestre numa ilha.» (texto de Cleménce Boulouque; Lire; Junho 2004; Trad. de João carlos Barradas)

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