outubro 07, 2007

Ilhas Aran: Uma Carta (1)

Carta Sobre a Grandeza das Ilhas de Synge e O`Flaherty
Francisco José Viegas escreveu para a Revista LER (nº 15, Verão de 1991), nos bons tempos em que dirigia essa publicação, um texto lindíssimo sobre uma jornada às Ilhas Aran, intitulado Carta Sobre a Grandeza das Ilhas de Synge e O`Flaherty. Confesso que esse texto, melancólico, preciso, mágico e inspirador, sempre me acompanhou e serviu, inclusivé, de antecâmara para a minha travessia para as Óileann Árainn. Lê-lo e relê-lo é propôr-mo-nos a uma autêntica campanha de visitação. São excertos desse mesmo texto o que de ora em diante se transcreve, hoje e depois. No fundo, assim se deve escrever sobre viagens, travessias, passagens e memórias delas.

Porto de Kilronan, Inis Mór, Ilhas Aran; Set.2006 (Photo by RC)

«O Arann Flyer partiu agora na direcção de Ross-An-Mhill (Rossaveal) e leva uma carta em que te peço alguns livros que, dirás, não têm importância. Este é uma dia de chuva, depois da tempestade que durou toda a noite e que, como de poderia dizer, fustigou este lado da pequena ilha. Inis Mór, de qualquer modo, não se afastou do seu lugar, embora pareça uma ilha flutuante, virada para a baía de Galway (que aqui se encontra, como sabes, também grafada como Gaillimh - e onde assisti, há quinze dias, às corridas de cavalos, as Galway Races eternizadas pelo poema de Yeats e pelas canções dos Pogues e dos Dubliners).

Comecei a reler Aran Islands, de Synge, e estranhei a forma como ele se aproxima de forma tão radical da função de geógrafo, embora conte histórias de fadas que os locais lhe afirmavam serem verdadeiras (pudera!, se alguém, como vem no livro, conta a forma como uma delas o raptou ...) e se limite, na sua estadia, a aprender gaelic (língua em que também eu estou a dar os primeiros passos agora) e a vigiar a vida local como observador de costumes. Talvez seja essa a verdadeira geografia dos lugares - vigia do presente, vigília do presente.

Inis Mór, Ilhas Aran; Set.2006 (Photo by RC)

Frente à baía de Cill Ronáin (Kilronan) que, como já te disse, está hoje cinzenta, há dois pubs e a partir das janelas de uma deles, o American, pode ver-se como o Arann Flyer se despede da ilha e traça no mar, não um risco branco, como é costume em dias de céu azul, limpo e brilhante, como aquele em que chegeui, mas uma rota invisível que algumas aves (serão gaivotas, como em Portugal) perseguem, como se seguissem um barco de pesca, mesmo daqueles artesanais que há por aí , ou do outro lado da ilha, em Bun Gabhla ou Cill Mhuirbhig. Recordo, por isso, as imagens do filme de Flaherty, The Man of Arann (...). É um filme assustador que acaba por dar-nos, em imagens, aquilo que o livro de John M. Synge nos dá em frases que sugerem outras imagens(continua...)

O American Bar, Kilronan, Inis Mór

Passagem: Aran Islands Video; Aran Islands Site; American Bar; Visit Aran Islands; John M. Synge; Aran Islands, by Synge; Man of Aran; Robert Flaherty

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2 Comments:

Blogger Jumpseat said...

Realmente é maravilhoso visitar este blog... Nos textos da Irlanda, quase que senti o cheiro daquela relva fresca; nestes das Ilhas Aran, a vontade de um dia conhecer!

Obrigado!

Ana*

01:09  
Anonymous Anónimo said...

Cara Ana, eu é que agradeço! É com esse fim que pretendo para este meu blog, obrigado. Tal como o seu, que considero de alta qualidade, parabens, Rui Cóias

13:49  

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