Paisagens: Bruegel (2)
Pieter Bruegel, l ´Ancien recebeu a tradição dos pintores Flamengos Primitivos dos século 15, como Van Eyck e Hans Memling, mas foi além dela ao transmitir-nos nas suas representações, quer sejam as gravuras ou os óleos sobre tela, a vastidão larga das paisagens e a importância significante de cada pormenor. Com Bruegel a paisagem passa para primeiro plano, assume o comando da descrição e o movimento da cena, na qual são registadas as tragédias e as comédias humanas até ao detalhe, que muitas vezes coloca enigmas na interpretação ou suscita a dificuldade de estabelecer conexões, como se algumas das suas imagens fossem uma imensa parábola de códigos desconhecidos. Com os seis trabalhos da sua série De Maanden (Os meses), pintados entre 1564-1565, designadamente com os dois deles que aqui vimos, respectivamente De Sondere Tag e De jagers in de sneeuw, Bruegel sugeriu-nos a transição do tempo, a passagem das estações do ano e, nelas, a mudança dos sentimentos e actividades humanas. Fê-lo através da imagética da paisagem, colocando-a no primeiro plano e à frente da observação, e deu-nos a perceber que subjacente a cada uma das suas cenas e representações por vezes independentes se desenrola a ideia maior e central: a de que o tempo, o triunfo de Saturno, mais tarde ou mais cedo resgatará os panoramas e o mundo. Com De Sondere Tag, um dos trabalhos daquela série, Bruegel transmite-nos esta ideia de efemeridade, esta passagem contínua, situando-nos nos meses de Fevereiro e Março, e, por isso, na transição do Inverno (De jagers in de sneeuw) para a Primavera, naquelas que são as paisagens da Pajottenland e as aldeias da Brabant, na Flandres. As árvores que vemos no plano central de De Sondere Tag são uma constante nos trabalhos de De Maanden, como se por elas, logo à primeira, sem ser preciso mais nada, percebêssemos a transição das estações e das emoções humanas.
Pajottenland, província de Vlaams-Brabant, Vlaanderen, Fev/Mar.2007 (Photos by RC) Das árvores partimos para o resto. Como nestas, aqui, que são, na verdade, uma das presenças mais impressivas e distintas da Pajottenland e da província de Vlaams-Brabant, por vezes com formas e silhuetas que apenas distam das dos quadros de Bruegel nos séculos. As árvores são as mesmas, o tempo é que não.
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