agosto 29, 2008

Os Dias da América (9)

Dos seus graciosos dias victorianos até ao seu estatuto actual de cidade de renascimento, Baltimore tem passado por tempos bons e menos bons, mas a sua força e perserverança mantem-se nas pessoas que vão há noite para pequenos lugares à beira da rua e se sentam com uma cerveja à luz azul-branca das avenidas. A potência industrial que manteve a cidade viva durante os tempos díficeis da economia americana caíu sob si própria. E como muitos centros vitais da produção americana, os empregos desapareceram com essa ruína. O que, contudo, sobrevive são os resultados da sua determinação, que apesar das dificuldades, se tornaram um atractivo para os visitantes e um sítio repleto de coisas para fazer e ver. Tal como por exemplo Pittsburgh, Baltimore é uma cidade de bairros vizinhos. O Mount Vernon e o Belvedere eram bairros de sociedade no centro da cidade; Fell`s Point e Canton eram vilas portuárias. Greektown era uma pequena localidade a este da cidade que manteve a sua individualidade. Todos estes lugares mantêm um charme particular e uma história interessante e individual. Na verdade, podemos dizer que Baltimore, aparte a classificação oficial dos seus diferentes districts, se divide em 3 grandes áreas: (1) o centro da cidade, que abrange o belíssimo Inner Harbour, com o seu waterfront repleto de restaurantes e lojas, o Mount Vernon, que é o distrito cultural por excelência, atravessado pela famosa Charles Street, em tempos frequentada por Fitzgerald, Gertrude Stein, Shapiro e Edgar Poe, e a Little Italy; (2) Fell`s Point, hoje um dos centros nocturnos da cidade, com os bares e restaurantes a darem para o porto antigo e onde se pode estar tranquilamente sentado numa das inúmeras e magníficas esplanadas; e (3) os outskirts propriamente ditos, que começam para lá da Penn Station e se alargam para oeste e leste da cidade, e onde podemos notar uma Baltimore diferente, mais pobre, segregada, habitada por uma população maioritariamente negra e com lugares que não são propriamente recomendáveis e onde a violência é diária. Mas provavelmente o local com mais carácter da cidade seja o Mount Vernon, zona onde se encontra a Washington Tower e o Walters Art Museum. O Mount Vernon foi o bairro proeminente da vida social de Baltimore durante o século XIX. E permanece ainda com essa atmosfera em muitas das suas zonas e recantos, e nas suas casas, pracetas, jardins e ruas. E não é preciso que caia a noite para que a tranquilidade e o silêncio desça sobre as suas históricas ruas. Basta um simples meio dia de qualquer dia da semana ou um sábado pela manhã, e sentem-se as presenças dos fantasmas daqueles que ao longos dos tempos por ali foram vivendo. Talvez seja por isso que Baltimore mantenha um spleen marcadíssimo e seja considerada uma cidade de vultos repetentes.

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