setembro 05, 2008

Os Dias da América (11)

Andar no Campus da Cornell University de Ithaca, uma cidadezinha no noroeste do estado de Nova Iorque, na margem de um dos lagos da belíssima e ampla região dos Finger Lakes, faz-me pensar, não sei porque razão (...!), na mediocridade latente no nosso portugalzinho e no estado espiritual e mental provinciano e bacoco do seu país de doutorzecos da treta, que tão bem se encontra contextualizado no recente post do Eduardo Pitta, no Da Literatura, a propósito da decadência da actualmente pretensamente qualificada livraria Buchholz, em Lisboa. E eu acrescento: da pretensa civilizada sociedade portuguesa, que mais não é do que um pardieiro de gentinha embevecida, que mais não conhece do que o quintal da sua rua. Também a mim já me sucedeu o que o Eduardo Pitta conta no seu referido post aquando da procura de um livro. Enfim, pobres tiques de um país de parolos ou falta essencial de pedigree. Devia essa gente passar duas horas em qualquer uma das Barnes & Nobles ... mas avançemos ... O Campus da Cornell University de Ithaca, onde foi professor de astronomia Carl Sagan, não é uma universidade por si só, é uma cidade que parece uma estância de veraneio ou de inverno para passeios recolhidos e conversas com vistas para os lagos, não fosse também um dos locais com um dos ensinos universitários mais avançados e qualificados do mundo. No meio do arvoredo, dos parques, dos jardins e das avenidas pejadas de plátanos, convivem os edifícios, alguns de arquitectura georgiana, onde se ensina agronomia, hotelaria, literatura, artes, astronomia, biologia, química, física elementar, ciências espaciais, economia, direito, medicina, etc. Os estudantes têm à sua disposição restaurantes, bares, museus, centro de informação, campos de futebol, basebol e atletismo, piscinas, bibliotecas rigorosissímas onde se pode estudar noite fora com vista para os jardins iluminados e centros de recreio. O Campus de Ithaca da Cornell é um enorme centro de saber, mas como os centros de saber devem ser, isto é, uma rede intricada e sustentada de ciência e formação, uma universidade no sentido próprio da palavra.
Sabe-se que as universidades nos EUA são elevadamente caras e que os pais e alunos se endividam até ao fim da vida para pagar os empréstimos de frequência. Aliás, os alunos quando entram para as universidades sabem que têm de principiar com empréstimos que ascendem aos 100.000 dólares. É uma enormidade. Mas sabem também que o ensino que vão obter os coloca na frente científica e tecnológica do mundo e que recebem em troca uma experiência recolhida em autênticas civilizações de conhecimento, onde se perspectiva a formação como uma grande causa de entendimento humano. Muito temos a aprender com estas universidades do pensamento, pobres de nós que, com o nosso pretenso ensino universitário, e com as infraestruturas do mesmo, onde prolifera a mediocridade latente, nos julgamos mais do que aquilo que na verdade e daqui para a frente somos e seremos. E depois admiram-se que uma das necessidades básicas dos jovens que estão na idade de entrar para a universidade seja a de irem lá para fora. Pudera. Mas como não, se o estado espiritual deste nosso povinho de doutorzecos é aquele que grassa na referida Buchholz ...

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