Rimbaud: Partir (5)
Jean Arthur Rimbaud, a sofrer de um tumor no joelho, faz-se transportar de maca, coberta por uma cortina, pela costa, de Harar a Zeilah, em quinze dias. Em Zeilah, derreado, paralisado, embarca no vapor, durante três dias, para Aden, onde passa uma quinzena. Devido à gravidade do seu estado, os médicos sugerem repatriá-lo para França, para ser hospitalizado. Em 20 de Maio de 1891 dá entrada no Hôpital de la Conception, em Marselha. A 25 de Maio é-lhe amputada a perna direita. Internado, doente, dependente das muletas, enviado a uma existência sedentária, consciente da sua debilidade e dos perigos próximos, 10 anos depois de ter partido de França para a sua imensa e barroca jornada africana, escreve:
Marselha, 10 de Julho de 1891: (...) Que maçada, que fadiga, que tristeza ao pensar em todas as minhas antigas viagens, e em como me encontrava há cinco meses apenas! Onde estão as caminhadas através dos montes, as cavalgadas, os passeios, os desertos, os rios e os mares? (...) E eu que justamente tinha decidido regressar este verão para me casar! Adeus casamento, adeus família, adeus futuro! A minha vida foi-se, não sou mais do que um cepo imóvel. (...)
A 23 de Julho do mesmo ano Rimbaud deixa o Hospital e apanha, sózinho, o combóio para Roche, aonde não regressava há 10 anos. Contudo, em 23 de Agosto o seu estado agrava-se novamente e é obrigado a voltar para Marselha, acompanhado da sua irmã Isabelle. E leva uma ideia fixa: embarcar outra vez para África. Chega a fazer planos para esse fim. Mas a doença, que se generaliza rapidamente, irá impedi-lo.
A 10 de Novembro de 1891, às dez horas da manhã, Jean Arthur Rimbaud morre em Marselha, no Hôpital de la Conception, depois de várias semanas em semi-coma. A sua irmã Isabelle acompanhou-o nesta longa agonia. A notícia da sua morte será conhecida em Paris não antes de 1 de Dezembro.
Mas a 9 de Novembro de 1891, exactamente na véspera da sua morte, Rimbaud ainda tinha escrito uma carta, a sua última, dirigida ao Director dos Transportes Marítimos de Marselha. A sua ideia era regressar a África, pelo Suez. As últimas palavras dessa carta ficaram na nossa memória como uma apologia da partida ... para algures ...
(...) Dizei-me a que horas devo ser transportado para bordo ...