junho 25, 2008

Passing Through: Hotéis

A vagabundagem literária levou muitos autores e artistas a refugiarem-se em alojamentos de diferentes categoria e latitudes, em cidades frenéticas, tranquilas ou nostálgicas, em busca das suas passagens.
Connemara (Irlanda)
O Hotel Renvyle, uma mansão antiga de atmosfera romântica, encontra-se localizado na agreste paisagem do Connemara, na inesquecível e eterna costa oeste da Irlanda. Lugar de reunião de poetas e artistas que ajudaram a fundar os estado irlandês, como Lady Gregory, William Butler Yeats ou o pintor Augustus John, foi também um ponto de encontro de romancistas como Oliver St. John Gogarty e James Joyce.
La Habana (Cuba)
Inaugurado em 1908, o Hotel Sevilla foi a primeira instalação de Cuba dedicada ao turismo. Os seus salões viram passar escritores como Rubén Dario ou Georges Simenon; e o quarto nº 510 foi cenário do romance de Graham Greene O Nosso Homem em Havana. No entanto, quem lhe deu fama foram mafiosos como Lucky Luciano e Al Capone. O Hotel ainda conserva a atmosfera do Alhambra na qual se inspiraram os seus arquitectos, bem como os pátios andaluzes que tantas vezes vibraram ao som de Peréz Prado, El Rey del Mambo. Duas lendas são parte da história do Hotel: os dois quadros com que o muralista mexicano Alfaro Siqueiros pagou a sua estadia e a invenção do Mojito, a famosa bebida cubana.

Bangkok (Tailândia)

Construído em 1876, o Oriental Hotel da capital tailandesa continua a ser um dos hotéis mais luxuosos do mundo. O escritor polaco Joseph Conrad foi o primeiro a descobri-lo, convertendo-se em habitual cliente a partir de 1888. Um dos restaurantes do Hotel, o Lord Jim - em homenagem a Conrad - oferece em cada mês o prato preferido dos autores que por lá passaram: Kipling, Tennessee Williams, Steinbeck, Gore VIdal ...

New York (EUA)

Arthur Miller passou sete anos no mítico Chelsea Hotel, enquanto escrevia As Bruxas de Salem. Mas o melhor deste Hotel é a sua própria biografia. O romancista Arthur C. Clarke perscutava o céu com um telescópio enquanto escrevia 2001 - Uma Odisseia no Espaço, e Sam Shepard , entre drogas e cerveja, escrevia as suas Crónicas de Motel. Leonard Cohen dedicou-lhe uma canção em homenagem a Janis Joplin, que se refugiou no Hotel para afogar a sua solidão em whiskey até à morte.

Istambul (Turquia)

O Hotel Pera Palas presenciou o declínio do império otomano, a fundação da república turca e as duas guerras mundiais. Em 1933, Agatha Christie alojou-se numa das suas suites para escrever Crime no Expresso do Oriente. Outros Hotéis

Pamplona (Espanha)

O quarto nº 217 do Hotel La Perla, na qual se alojou Hemingway, é actualmente a mais solicitada do estabelecimento.

Tânger (Marrocos)

Paul Bowles e Truman Capote hospedaram-se durante várias temporadas no Hotel Minzah.

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junho 20, 2008

Poesia: Guia de Discussão (5)

Não existe forma certa ou errada para falar de poesia, para ouvi-la, vê-la e fazer com ela a ligação para as coisas que existem, suportando com cada verso uma pequena parte do mundo e legendá-lo. Poesia e música. Quando uma se encontra e funde noutra, temos a poesia e a música perfeitas. Ou de outro modo: quando a última canção da moda te fizer lembrar um texto de Heráclito ou ... de Dylan Thomas, então a tua cultura não terá nada a temer. E aí, o objectivo está cumprido.

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junho 13, 2008

Poesia: Guia de Discussão (4)

Instruções para uso da Poesia
Não existe forma certa ou errada para falar de Poesia
4. Quem precisa de poemas?
O poema "Durante anos o meu coração inquiriu-me" de Hafez invoca quatro diferentes religiões e faz convergir num só passo imagens de carácter místico. "Dia de Outono" de Rilke é um texto sobre o lamento do fim do verão. O poema de Leopardi intitulado "À sua mulher" faz relevar que a apaixonada do poeta não viver sequer já neste mundo. Para quem acha que o poeta tencionou ler estes poemas? Quando os lemos, o que é que da nossa experiência pessoal nos vem à lembrança?Em contraste com o tom pessoal e com as emoções imediatas daqueles poemas, "The Crane Dance" de Yannis Ritsos e o "O Rapto de Europa" de Ovidio são por seu lado textos que convocam histórias particulares da mitologia. Reagiremos de forma diferentes a estes poemas? Como é que eles fazem uso das passagens mitológicas a que se referem? E o que é que pode acontecer se não estivermos eventualmente familiarizados com as histórias mitológicas que lhes servem de pano de fundo? Há alguma forma pela qual estes poemas reflectem as mesmas preocupações daqueles outros que foram escritos com uma voz mais pessoal? Para lá da imediata questão sobre o que é que um poema significa, existem outras ideias que se poderão considerar: as texturas do som e da cadência, a importância das imagens, e a sugestão provocada pelo conjunto das palavras e frases. À medida que lemos os poemas devemos tentar ver de que forma estas particularidades nos aparecem como um todo em si. Existem algumas coisas que os poemas podem comunicar que o não podem ser através da forma comum de um mero depoimento? Quais serão essas coisas ou realidades?

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junho 03, 2008

Poesia: Guia de Discussão (3)

Instruções para uso da Poesia
Não existe forma certa ou errada para falar de Poesia
3. Acerca de que são os poemas?
Cada poema envolve a sua própria forma de escrita e a selecção seguinte é apenas uma amostra das várias formas à disposição dos poetas. "Pedra Negra e Pedra Branca" de Vallejo e "Dia de Outono" de Rilke são sonetos, a tradicional forma das 14 linhas praticada em diversas línguas. O termo "soneto" deriva da expressão provençal "sonet" e da palavra italiana "sonetto", ambas as quais significam "pequena canção". "Para a Sua Mulher" de Leopardi é uma canzone, um modelo italiano que também toma o seu nome da palavra canção; quase uma balada, cada verso do poema possui o mesmo número de linhas. Podemos imaginar cada um destes poemas serem transformados em música? Após observar cuidadosamente estes poemas e depois de os ler em voz alta, pense como estes poemas poderiam ser partituras de música e como, simultaneamente, eles são diferentes da música.

"Mu `allaqa" de Imru ´al-Qays e "Canção de Baghdad" de Ibn al-Arabi são poemas originalmente escritos em "monorima", uma forma comum usada para a lírica escrita em árabe, persa, latim e até galês: significa apenas que a palavra no fim de cada linha tem a mesma rima. De outro modo, os versos do Rapto de Europa das Metamorfoses de Ovidio foram originalmente compostos em hexametros, um dos mais comuns modelos latinos. Um grande número de poemas é actualmente composto em verso livre, que, embora possua, por vezes, menos cadência, está contudo inequivocamente atento ao som do ritmo das palavras. Por seu lado, o texto de Francis Ponge "As árvores extinguem-se a si próprias dentro de uma esfera de nevoeiro" é um poema em prosa - onde não há rima particular, nem quebras de linha intencionais.

Procure pensar por que é que cada poema foi composto na sua forma particular ou porque é que um poema não obedeceu a qualquer forma particular. O que é que estas escolhas expressam além do texto ou juntamente com as palavras elas próprias? Quais são as virtudes e os perigos de escrever poemas numa forma particular - ou escrevê-los sem obedecer a qualquer modelo?

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