setembro 26, 2008

Os Dias da América (14)

América!

setembro 15, 2008

Os Dias da América (13)

Washington, Dulles Airport, 9/11, 2008, 9:38 a.m
7 anos desde que o voo 77 bateu no edifício do Pentágono, aqui ao pé. Em Dulles, como em toda a América, as bandeiras estão a meia haste. Um minuto de silêncio. As pessoas param na gare do aeroporto e nas portas de embarque. Algumas choram. Washington silencia. E não esquece. Como um pouco mais acima, em NYC.

setembro 08, 2008

Os Dias da América (12)

Qualquer road trip nos EUA implica a paisagem constante dos móteis e dos hotéis de estrada. Na América viajar na estrada tem um espírito muito próprio, faz parte de um mundo simbólico, que ao lonmgo da vida nos habituámos a ver nos filmes, principalmente nos road movies. Na verdade, a estrada na América tem um importância tão forte que até é responsável pela criação de um género cinematográfico específico, acompanhado da sua simbologia especial, imcomparável em qualquer lado do mundo. A mítica route 66, que liga Chicago a Los Angeles, as jornadas do coast to coast, as travessias dos estados estão constantemente ligadas ao imaginário americano. E nesse imaginário é marca obrigatória a presença dos motels e dos road hotels, de que são arquétipos, se quisermos, o motel de Psico, de Hitcock, ou o de 29 Palms. Mas percebe-se que seja assim. É que na América andar de carro tem um tempo e um espaço próprio, marcado numa dimensão real da existência americana. E as distâncias que têm de se percorrer são tão grandes e demoradas que ao lado das estradas e das auto estradas coexiste um mundo próprio, uma extensão natural das estradas, formada pelos motels e hotels, bem como por uma qualtidade infindável de malls, rest areas, gas stations, food areas, market areas, etc. Aliás, viajar de carro na América implica necessáriamente a vivência desses lugares, repletos da magnífica panfernália do mito americano. Os móteis e hoteis têm aqui a sua máxima expressão e não é preciso sair da estrada para poder dormir e descansar durante a noite. Em certa América mais isolada, mais profunda, os motels podem até sugestionar uma existência estranha e levar-nos a imaginar histórias pouco agradáveis. Noutros lugares, as cadeias de hoteis de estrada surgem como locais de conforto, ao fim de um dia de viagem. Os hoteis estão sempre práticamente lotados, dada a quantidade de viajantes de estrada, pelas mais diversas razões. E são muito confortáveis e limpos, com quartos espaçosos, salas de repouso, piscinas interiores e exteriores, alguns com salas de bingo. Nas cadeias dos days Inn, Holiday Inn, Clarion, Motel 6, Super 8 Motel a América aparece-nos numa das suas mais típicas expressões, que só fica completa com os markets e foods areas, imediatamente adjacentes, onde se pode jantar e comprar comida durante 24 horas. Do Nebrasca ao Montana, da Pennsylvania à West Virginia, do Maryland ao New York State, viajar de carro é a quintaessência americana, e à noite há sempre um motel luminoso ao lado da estrada, um diner para umas spicy wings e apple pie e uma moeda na jukebox para, por exemplo, Emilou Harris, e voltar ao hotel para ver Urban Cowboy, com John Travolta. Depois, E se isto não é a América ....

setembro 05, 2008

Os Dias da América (11)

Andar no Campus da Cornell University de Ithaca, uma cidadezinha no noroeste do estado de Nova Iorque, na margem de um dos lagos da belíssima e ampla região dos Finger Lakes, faz-me pensar, não sei porque razão (...!), na mediocridade latente no nosso portugalzinho e no estado espiritual e mental provinciano e bacoco do seu país de doutorzecos da treta, que tão bem se encontra contextualizado no recente post do Eduardo Pitta, no Da Literatura, a propósito da decadência da actualmente pretensamente qualificada livraria Buchholz, em Lisboa. E eu acrescento: da pretensa civilizada sociedade portuguesa, que mais não é do que um pardieiro de gentinha embevecida, que mais não conhece do que o quintal da sua rua. Também a mim já me sucedeu o que o Eduardo Pitta conta no seu referido post aquando da procura de um livro. Enfim, pobres tiques de um país de parolos ou falta essencial de pedigree. Devia essa gente passar duas horas em qualquer uma das Barnes & Nobles ... mas avançemos ... O Campus da Cornell University de Ithaca, onde foi professor de astronomia Carl Sagan, não é uma universidade por si só, é uma cidade que parece uma estância de veraneio ou de inverno para passeios recolhidos e conversas com vistas para os lagos, não fosse também um dos locais com um dos ensinos universitários mais avançados e qualificados do mundo. No meio do arvoredo, dos parques, dos jardins e das avenidas pejadas de plátanos, convivem os edifícios, alguns de arquitectura georgiana, onde se ensina agronomia, hotelaria, literatura, artes, astronomia, biologia, química, física elementar, ciências espaciais, economia, direito, medicina, etc. Os estudantes têm à sua disposição restaurantes, bares, museus, centro de informação, campos de futebol, basebol e atletismo, piscinas, bibliotecas rigorosissímas onde se pode estudar noite fora com vista para os jardins iluminados e centros de recreio. O Campus de Ithaca da Cornell é um enorme centro de saber, mas como os centros de saber devem ser, isto é, uma rede intricada e sustentada de ciência e formação, uma universidade no sentido próprio da palavra.
Sabe-se que as universidades nos EUA são elevadamente caras e que os pais e alunos se endividam até ao fim da vida para pagar os empréstimos de frequência. Aliás, os alunos quando entram para as universidades sabem que têm de principiar com empréstimos que ascendem aos 100.000 dólares. É uma enormidade. Mas sabem também que o ensino que vão obter os coloca na frente científica e tecnológica do mundo e que recebem em troca uma experiência recolhida em autênticas civilizações de conhecimento, onde se perspectiva a formação como uma grande causa de entendimento humano. Muito temos a aprender com estas universidades do pensamento, pobres de nós que, com o nosso pretenso ensino universitário, e com as infraestruturas do mesmo, onde prolifera a mediocridade latente, nos julgamos mais do que aquilo que na verdade e daqui para a frente somos e seremos. E depois admiram-se que uma das necessidades básicas dos jovens que estão na idade de entrar para a universidade seja a de irem lá para fora. Pudera. Mas como não, se o estado espiritual deste nosso povinho de doutorzecos é aquele que grassa na referida Buchholz ...

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setembro 02, 2008

Os Dias da América (10)

"What brings you to this little dot on the pennsylvania map?", pergunta o velhote, com um sotaque serrado, no balcão do único restaurante da vila de Renovo, no nordeste da Pennsylvania, encravada entre a Tioga State Forest, no Tioga Country, e a Susquehannock State Forest, enquanto bebe café e eu mordo umas hot wings. Nada de especial, respondo. We are just driving across Pennsylvania, now coming from Gaines and Wellsboro, junto ao denominado Grand Canyon da Pennsylvania, quase no estado de New York. Depois disto, a conversa não termina. O velhote conta como vive desde sempre em Renovo e conhece todas as redondezas. Na América é assim, por qualquer coisa as pessoas metem conversa umas com as outras e começam diálogos intermináveis, mas sempre simpáticos. Normalmente, na estrada a conversa gira à volta de quem somos, donde viemos e para onde vamos. É uma questão de espírito. A Pennsylvania também é uma questão de espírito, em muito. É um dos maiores estados dos Eastern USA, ocupa uma espécie de rectângulo, e possui uma espécie de carácter próprio, que começa em Philadelfia, passa pelo Dutch County, no Sul, nas zonas de Lancaster, onde vivem as comunidades Amish, por Gettysburg, onde o Norte venceu o Sul na Guerra Civil, percorres as intermináveis planícies, e encerra-se nas suas florestas vastíssimas e desconhecidas, a norte, como a Allegehny National Forest, habitadas por ursos pretos e lobos, cruzadas por rápidos de rios, e onde a nossa imaginação começa nos inúmeros filmes americanos e acaba no imenso emaranhados das árvores. Cruzar a Pennsylvania de carro também requer espírito e vontade, principalmente quando se sai das interstates e se entra nas estradas nacionais e secundárias, onde a América nos mostra a sua faceta única, incomparável, e quando o próprio acto de conduzir nas estradas e atravessar os estados é já de si um theme, uma religião, habitada pela sua panfernalia própria, como os diners, os móteis, os hóteis de estrada, as rest areas com free coffee, os camiões com as matrículas do Nebraska, do Ohio, do Minnesota e do Wisconsin, e as centenas de motards nas suas harley davinsons, como os seus códigos rígidos. A música também teo o seu lugar importantíssimo e ao atravessar a Pennsylvania para norte Bob Dylan parece uma fabulosa opção, principalmente quando a estrada nos conduz na direcção do Canadá e ouvimos essa belíssima canção que é Girl of The North Country. Isto é a América. Mas estar no sopé da Tioga Forest, no Tioga County, a descansar enquanto se trincam umas wings, e ouvir no restaurante as conversas dos clientes a almoçar tranquilamente durante o labor day, também é a América profunda, se bem que a 4.0000 km longe do Colorado ou do Arizona, bem enraízada numa Pennsylvania remota, que estranha os visitantes que acaso ali passam, just driving along, driving fast, como na outra canção, a de Bruce Springsteen. Mas se isto não é a América, o que será ela então?

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